Era uma vez um casal de irmãos
que se perde na floresta. Assustados, os dois caminham, caminham, até que
deparam com uma casa. Uma casa feita de doce, oba! Sãos e salvos e ainda
premiados. Doce ilusão. A dona da casa é uma velha bruxa má, que os aprisiona,
escravizando a menina e trancafiando o menino em uma jaula. Ela então passa a
atochá-lo de doces, para que ele “engorde como um porquinho” e ela possa comê-lo em
breve.
Até que um dia, numa distração da
velha, a menina liberta o irmão e os dois fogem. Não sem antes darem uma lição
na bruxa. Jogando-a dentro de um forno em chamas. Viva.
Ufa.
Se essa história não fosse
conhecida por praticamente cada pessoa deste planeta já há algumas gerações,
quem a contasse poderia apresentá-la como um conto de terror. Mas não. Como
todos sabem, trata-se de um conto infantil, apresentado ao mundo por outra
dupla de irmãos, Jacob e Wilhelm Grimm. O que torna a coisa toda ainda mais
assustadora.
Mas não, não me estenderei em
psicologismos – do tipo “o que poderíamos mesmo esperar de seres humanos que
crescem ouvindo histórias ‘edificantes’ como a de João e Maria e entoando
cantigas como ‘atirei o pau no gato’?”.
Apenas digo que não é de hoje que
venho pensando que não era possível que só eu enxergasse a história de João e
Maria como ela realmente é – um pavoroso conto de horror -, e que somente ele
poderia trazer essa verdade à tona: o cinema. E eis que entra em cartaz JOÃO E MARIA:
CAÇADORES DE BRUXAS (HANSEL & GRETEL: WITCH HUNTERS, 2013). E pronto,
perderam uma oportunidade de ouro - ou melhor, de açúcar - de prestar um
serviço público da maior utilidade para os ainda ingênuos pequenos seres
humanos em formação.
A ideia é bem boa: após os
traumáticos eventos da infância, João e Maria crescem e se tornam renomados
caçadores de bruxas, tendo seus serviços contratados por prefeitos de vilarejos
atemorizados por suas presenças maléficas. Mas a história original, que renderia
um belo filme de terror, é apenas sua abertura, que dura uns cinco minutos. Ora,
pipocas, e como não pensaram em fazer a grande vedete das atuais produções
hollywoodianas: uma trilogia, com o primeiro capítulo inteiramente dedicado ao
cativeiro dos pobres irmãos?
Bom, mas assim como refizeram
novas franquias de Batman, Homem Aranha e Hulk com poucos anos de intervalo,
resta uma esperança. De qualquer forma, JOÃO E MARIA: CAÇADORES DE BRUXAS
quebra um galho até lá - embora tenha pecado pelo descaso com o conto de origem,
o filme é violento e divertido. Tem a sacada legal de mostrar que os heroicos e
justos irmãos, em sua caça às bruxas, libertam ainda das garras da Inquisição aquelas
moças condenadas injustamente à fogueira. E outra, genial: após a longa estada
sob dieta de açúcares imposta pela velha bruxa, João é agora, além de um herói
que salva povoados e suas criancinhas de horrorosas bruxas, um adulto
diabético.
JOÃO E MARIA: CAÇADORES DE BRUXAS
(HANSEL & GRETEL: WITCH HUNTERS, 2013)
Direção: Tommy Wirkola
Com: Jeremy Renner (João), Gemma
Arterton (Maria) etc.