domingo, 27 de janeiro de 2013

Puxa a vassoura da bruxa!




Era uma vez um casal de irmãos que se perde na floresta. Assustados, os dois caminham, caminham, até que deparam com uma casa. Uma casa feita de doce, oba! Sãos e salvos e ainda premiados. Doce ilusão. A dona da casa é uma velha bruxa má, que os aprisiona, escravizando a menina e trancafiando o menino em uma jaula. Ela então passa a atochá-lo de doces, para que ele “engorde como um porquinho” e ela possa comê-lo em breve.

Até que um dia, numa distração da velha, a menina liberta o irmão e os dois fogem. Não sem antes darem uma lição na bruxa. Jogando-a dentro de um forno em chamas. Viva.

Ufa.

Se essa história não fosse conhecida por praticamente cada pessoa deste planeta já há algumas gerações, quem a contasse poderia apresentá-la como um conto de terror. Mas não. Como todos sabem, trata-se de um conto infantil, apresentado ao mundo por outra dupla de irmãos, Jacob e Wilhelm Grimm. O que torna a coisa toda ainda mais assustadora.

Mas não, não me estenderei em psicologismos – do tipo “o que poderíamos mesmo esperar de seres humanos que crescem ouvindo histórias ‘edificantes’ como a de João e Maria e entoando cantigas como ‘atirei o pau no gato’?”.

Apenas digo que não é de hoje que venho pensando que não era possível que só eu enxergasse a história de João e Maria como ela realmente é – um pavoroso conto de horror -, e que somente ele poderia trazer essa verdade à tona: o cinema. E eis que entra em cartaz JOÃO E MARIA: CAÇADORES DE BRUXAS (HANSEL & GRETEL: WITCH HUNTERS, 2013). E pronto, perderam uma oportunidade de ouro - ou melhor, de açúcar - de prestar um serviço público da maior utilidade para os ainda ingênuos pequenos seres humanos em formação.

A ideia é bem boa: após os traumáticos eventos da infância, João e Maria crescem e se tornam renomados caçadores de bruxas, tendo seus serviços contratados por prefeitos de vilarejos atemorizados por suas presenças maléficas. Mas a história original, que renderia um belo filme de terror, é apenas sua abertura, que dura uns cinco minutos. Ora, pipocas, e como não pensaram em fazer a grande vedete das atuais produções hollywoodianas: uma trilogia, com o primeiro capítulo inteiramente dedicado ao cativeiro dos pobres irmãos?

Bom, mas assim como refizeram novas franquias de Batman, Homem Aranha e Hulk com poucos anos de intervalo, resta uma esperança. De qualquer forma, JOÃO E MARIA: CAÇADORES DE BRUXAS quebra um galho até lá - embora tenha pecado pelo descaso com o conto de origem, o filme é violento e divertido. Tem a sacada legal de mostrar que os heroicos e justos irmãos, em sua caça às bruxas, libertam ainda das garras da Inquisição aquelas moças condenadas injustamente à fogueira. E outra, genial: após a longa estada sob dieta de açúcares imposta pela velha bruxa, João é agora, além de um herói que salva povoados e suas criancinhas de horrorosas bruxas, um adulto diabético.


JOÃO E MARIA: CAÇADORES DE BRUXAS (HANSEL & GRETEL: WITCH HUNTERS, 2013)
Direção: Tommy Wirkola
Com: Jeremy Renner (João), Gemma Arterton (Maria) etc.