Década de 1930. O cinema mudo estava com os dias contados. Chaplin, assim como outros pioneiros do cinema (entre eles, Hitchcock), resistia. Ele acreditava que falas eram coisa de teatro, encenação naturalmente mais expansiva, e que o cinema era uma forma de arte mais pantomímica. Mas a pressão da indústria, e do público, era crescente, e era inevitável que Chaplin acabasse por soltar a voz em seus filmes também. O que ele fez, como mostra o vídeo acima, em TEMPOS MODERNOS (MODERN TIMES, 1936). Ou quase.
Na cena em que todos esperavam enfim ouvir a voz de Chaplin, ele fala mas não diz nada: seu personagem esquece a letra da música, e, para não decepcionar ou enfurecer a plateia, canta em um bizarro idioma, que às vezes parece italiano, outras francês, alemão. Mas cujas palavras não dizem absolutamente nada, porque simplesmente não existem, é uma língua inventada. E ele é entusiasticamente aplaudido. Ou seja, palavras não importam.
(Chaplin acabaria cedendo em seu filme seguinte, no final de O GRANDE DITADOR (THE GREAT DICTATOR, 1940), quando o barbeiro que é confundido com o ditador do título (uma paródia a Hitler) faz um antológico discurso pacifista.)
TEMPOS MODERNOS (MODERN TIMES, 1936)
Direção: Charles Chaplin
Com: Charles Chaplin, Paulette Goddard etc.
O GRANDE DITADOR (THE GREAT DICTATOR, 1940)
Direção: Charles Chaplin
Com: Charles Chaplin, Jack Oakie, Paulette Goddard etc.